Pergunta-se: o marketing cria necessidades nas pessoas, que então compram itens desnecessários, com um dinheiro historicamente escasso? Ou essa atividade da mercadologia se resume a uma técnica usada apenas para descobrir as necessidades que existem, desde o nascimento, em todo ser humano? Semenik & Bamossi, que assinam o livro Princípios de Marketing, recusam-se a caminhar sozinhos por essa estrada. Sabem que ela está repleta de olheiros rigorosos, gente à espera de uma boa oportunidade para flagrar alguma ação calculadamente vendedora. Esses guardiões querem botar as mãos naqueles que insistem em negar que o mundo se tornou um lugar perigoso depois da invenção da Igreja, dos bancos, da política e do marketing. Este último vende tudo isso. [caption id="attachment_18506" align="alignnone" width="640"]Steve Jobs apresenta o iPhone em 2007. Você sabia que precisava dele? Ele sim. Steve Jobs apresenta o iPhone em 2007. Você sabia que precisava dele? Ele sim.[/caption] A esse propósito, precavidos, lembram o trabalho desenvolvido pelo psicólogo americano Abraham Maslow nessa área. O estudioso identificou e sistematizou um conjunto de necessidades naturais, que incluem as fisiológicas, de segurança, de amor e participação, de estima e de realização. Dito em outras palavras, ele não inventou nada. Apenas trouxe à tona o que já existia, eis o que se pode entender. A certa altura, buscando fundamentar sua teoria sobre o valor do marketing, os autores advertem: “Deve ficar claramente entendido que Maslow estava descrevendo as necessidades e motivações humanas básicas e não as necessidades e motivações do consumidor.” Para os especialistas, agora cabe ao leitor a tarefa de entender que essas carências são inerentes ao ser humano, esteja ele consumindo ou não. E que essa ponderação se oriente pelo melhor espírito sugerido pelo filósofo Spinoza. O pensador alega ter feito um esforço incessante para não ridicularizar, nem desprezar as ações humanas, sejam elas quais forem, mas para compreendê-las. Entender antes de julgar, a fim de se evitar condenações sumárias. Com essa distinção de critérios de julgamento, parece-me, Semenik & Bamossi desejam frear o impulso de muitos puristas que insistem em incriminar essa prática mercadológica. Mesmo tendo-se consciência de que ao marketing se atribui o mérito de facilitar o encontro da felicidade humana, sobretudo quando o bolso permite. O assunto é polêmico. Merece reflexão. Essa necessidade precede todas as outras