Um belo dia você começa um blog, meio sem querer e, se estiver realmente desprendido de grandes ambições, nunca sabe onde ele pode levar você. Isso é o mais corriqueiro de se ver nesta mega-comunidade de escritores-leitores que, entra ano, sai ano, só faz crescer. O que me surpreende mesmo é entender que o mais valioso é descobrir o que o blog vai TRAZER pra você. E não estamos falando de parcos dólares do AdSense ou comissões de vendas de livros que vocês compram por aqui. Tomemos o meu caso específico. O CarreiraSolo vive de transmitir, em última análise, pensamento positivo para quem está começando como freelancer. Em doses proporcionais aos desafios que designers, redatores, programadores, fotógrafos, jornalistas, músicos etc etc, enfrentarão. Divagando um pouco Não há ciência ou corrente religiosa neste e em outros mundos que conteste uma lei básica do universo: tudo o que você pratica, recebe de volta, normalmente em dobro. Se você aponta o dedo, tem outros quatro voltando para você, se acredita que pode ajudar alguém, alguém lá na frente ajudará você, se pratica o bem no presente, seu futuro terá como recompensa um bem maior. Acho que todo mundo já ouviu alguma vez essa história, contata com mais ou menos um ponto, não é? Pois bem. O que o Carreirasolo.org trouxe para seu humilde editor? Iates? Mansões? Cem Mil dólares? Tsc...nada disso. Ele me devolve o mesmo pensamento positivo que imprimo (digito?) quase todos os dias para vocês. Ele pode vir como um comentário, um clique num anúncio, um testemunhal espontâneo, uma sugestão de posts, um pedido de conselho profisisonal, nos novos amigos que faço. Assume diversas formas, como a tal lei universal da ação e reação. A ação. Imaginem vocês que dia desses, ao abrir meu Gmail, deparei-me com um pedido inusitado, toda uma história pessoal e uma motivação surpreendentes. Tudo assim, num parágrafo único e com um portfólio em anexo. Tum! Tratava-se do designer português Rui Fernandes que depois de passar por várias cidades de lá trabalhando como Diretor de Criação resolveu largar tudo e se mudar para cá, para tentar tudo novamente. Leitores portugueses não são raros por aqui. Tivemos o prazer de entrevistar o profissional de Ergonomia Ivo Gomes e a WebDesigner Margarida e muitos outros, acredito, já leram o MiniCurso, as entrevistas, nossas dicas etc. Mas largar o país e vir para o Brasil, mas precisamente o Rio de Janeiro, essa era nova: rui j fernandes.jpg
Olha Rui, o CarreiraSolo é um espaço aberto para todos os freelancers mas o máximo que posso oferecer é um post, uma rápida entrevista e enviar seu portfólio para dois ou três contatos mais próximos que acredito possam se interessar por seu trabalho.
E tive como resposta uma das frases que já assumiu várias formas (impressão minha ou as coisas estão assumindo diversas formas ultimamente?) nestes quase três anos de blog, mas que adoro ouvir:
Nunca diga que é pouco aquilo que se disponibilizou a fazer por mim, ou que faz por outros, porque é raro encontrar pessoas como você.
Então vamos lá, seu Rui. Raro por aqui só os cabelos ultimamente...mas conte pra gente. Como se deu sua formação aí em Portugal? Em que cidades atuou?
A minha formação como poderá ver no meu curriculum ficou pela frequência do curso superior de desenho, depois de no secundário ter feito o complementar de artes e técnicas gráficas numa das duas mais prestigiadas escolas de artes portuguesas (escola de artes e técnicas decorativas Soares dos Reis – Porto), curso superior esse do qual não cheguei a concluir o primeiro ano. Porquê? Nessa época, um pouco à imagem de hoje, o ensino em Portugal pautava-se por constantes alterações na forma e no conteúdo, isto implicou que durante alguns anos a fórmula de acesso ao ensino superior fosse constantemente alterada, mais, dado que na altura o ensino privado era praticamente nulo e as vagas para o público eram muito reduzidas, muito boa gente viu-se obrigada a ficar de fora. No primeiro ano em que isto me sucedeu optei por começar a trabalhar como profissional liberal com o apoio do meu pai que, embora formado em engenharia, foi desde sempre um apaixonado pelas artes gráficas e um excelente pintor autodidacta (poderá ver uma pequena amostra do seu trabalho no meu portfolio em dois cartazes que fiz para exposições suas), no ano seguinte decidi candidatar-me então ao ensino privado na ESAP, onde fui admitido com a segunda melhor nota no curso de desenho, mas infelizmente por dificuldades financeiras que a minha família na altura atravessou e dado que as mensalidades do curso eram muito elevadas, fui obrigado a repensar as minhas opções e tomei a decisão de fazer da via profissional o meu curso permanente. Até hoje nunca me arrependi, mais ainda porque naquela época aqui em Portugal o ensino do design gráfico (curso que eu verdadeiramente ansiava) ou de outros cursos ligados à comunicação e design eram, na minha opinião, bastante antiquados e algo fracos, ao contrário nas agências por onde passei tive sempre acesso, através de toda uma série de publicações (principalmente inglesas e americanas), do trabalho com profissionais experientes e de alguns contactos com associadas internacionais, a uma panóplia de informação e formação que me proporcionou um crescimento profissional e pessoal que julgo invulgares para um designer com a minha idade e limitações de base, dado não possuir habilitações académicas de nível superior. Com esta formação auto imposta de forma contínua e por vezes quase obsessiva consegui chegar a director criativo do Grupo Bebiano – Porto, e mais tarde a director de arte da Direnor, imagem e comunicação – Braga, tendo sido nestas duas cidades, para além da minha terra natal, Ovar, que desenvolvi a maior parte da minha carreira.
Quais são suas qualificações atuais (programas, cursos etc) e o que pretende adicionar à sua experiência uma vez no Brasil?
A nível de programas, posso dizer que tanto em ambiente mac como pc, domino totalmente freehand e photoshop, parcialmente quase todos os outros programas do universo adobe e macromedia com excepção dos programas de elaboração de sites, uma vez que quando tive necessidade de construir os mesmos, limitei-me a fazer como que um storyboard que depois cedi a um amigo e óptimo profissional que se encarrega de por o site a funcionar, no entanto esta é uma das áreas em que estou agora a iniciar, mais uma vez por minha conta a aprendizagem, e que penso poderia aprender muito com seus compatriotas, para além de disso acho que também poderia beneficiar da vossa capacidade de comunicar, mensagens publicitárias, para aprender e retomar um pouco da minha carreira na área da publicidade, visto que ultimamente me tenho dedicado mais, ou quase exclusivamente, ao design gráfico.
Por que o mercado brasileiro?
Porquê o mercado brasileiro? Não é tanto o mercado brasileiro, mas sim o Brasil. Porquê? Poderia dizer-lhe que a paixão, o amor, a emoção não precisa de explicação, mas tentando racionalizar os sentimentos dir-lhe-ia que: um pouco desiludido com o rumo que o meu país há muito parece tomar, com a pouca identificação que desde sempre senti com a sua sociedade sempre tive alguma vontade de emigrar e pelas razões que de alguma forma expus na minha carta penso entender-se o porquê do Brasil. Porquê o Rio e não outras cidades brasileiras? Porque sendo eu muito ligado á família, e tendo alguma necessidade de apoio numa primeira fase de adaptação a uma nova realidade, seria para mim importante estar em contacto, próximo, com ela aí no Rio, não coloco no entanto de parte a sua sugestão de poder trabalhar noutras cidades brasileiras, sendo que nesse caso a compensação financeira teria que ser mais atractiva, não que eu à partida esteja em busca da "árvore das patacas" mas porque penso que tudo o que implica de alguma forma um (sacrifício) merece ser compensado.
A reação Viram só? O cara quer vir para nossa terrinha mesmo. Sei que alguns amigos aí vão levantar o dedo: mas se já está difícil pra gente, vai importar designer de portugal? Se esta dúvida ocorrer a vocês, leiam a parte em que falei sobre ação e reação. A minha foi mandar o portfólio do Rui Fernandes para dois diretores de criação. E a de vocês, qual será? Mandar um e-mail agora para o Rui indicando uma oportunidade por aqui, por exemplo?